Resumo Este artigo interpela uma questão premente na etnologia amazônica, a saber, a insuficiência ou os limites de categorias como povo, cultura, etnia ou sociedade para narrar as experiências de nossos interlocutores e interlocutoras de pesquisa. Em diálogo com a noção de objetificação de Marilyn Strathern, com as ideias de Tânia Stolze Lima sobre grupos-sujeitos e totalização contra-hierárquica, e com a teoria do ritual de Roy Wagner, procura-se mostrar como, entre os Karo-Arara de Rondônia, um povo é a instanciação de um coletivo estendido de parentes que somente pode vir a existir sob uma forma específica e convencional, em contextos rituais, e capitaneado por sujeitos concretos. O exercício analítico parte da etnografia de uma festa, o Wayo ‘at Kanã, que é entendida pelos meus interlocutores como, entre outras coisas, uma apresentação.
Abstract This article raises an important issue in Amazonian ethnology, to wit, the insufficiency or limits of categories such as ‘people’, ‘culture’, ‘ethnic group’ or ‘society’ to narrate the experiences of our research interlocutors. In dialogue with Strathern’s notion of objectification, with Tânia Stolze Lima’s ideas about subject-groups and counter-hierarchical totalization, and with the ritual theory of Roy Wagner, I show how, among the Karo-Arara of Rondônia, a ‘people’ is the instantiation of an extended collective of relatives which can only come to exist in a specific and conventional form in ritual contexts, led by concrete subjects. The analytical exercise takes the ethnography of a festival, the Wayo ‘at Kanã, which is my interlocutors understand as, among other things, a cultural presentation.
Resumen Este artículo aborda un tema acuciante en la etnología amazónica, a saber, la insuficiencia o los límites de categorías como pueblo, cultura, etnia o sociedad para narrar las vivencias de nuestros interlocutores. En diálogo con la noción de objetivación de Marilyn Strathern, con las ideas de Tânia Stolze Lima sobre los grupos de sujetos y la totalización contrajerárquica y con la teoría ritual de Roy Wagner, busca mostrar cómo, entre los Karo-Arara de Rondônia, un pueblo es un colectivo extenso de parientes que sólo puede existir en una forma específica y convencional, en contextos rituales, y dirigidos por sujetos concretos. El ejercicio analítico parte de la etnografía de una fiesta, el Wayo ‘at Kanã, que mis interlocutores entienden, entre otras cosas, como una presentación cultural.